A Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada/Associação Empresarial das Ilhas de S. Miguel e Santa Maria realizou recentemente um inquérito aos estabelecimentos de restauração, com o objetivo de aferir, pelas respostas das empresas, o impacto da pandemia (COVID – 19) na atividade das empresas neste setor.
O inquérito foi lançado junto de cerca de 150 associados entre os dias 22 e 26 de abril de 2020 nas ilhas de S. Miguel e Santa Maria, tendo sido recebidas 85 respostas.
O inquérito incidiu sobre vários aspetos: Número de trabalhadores ao serviço e organização da empresa; Impacto económico na empresa e perspetiva futura de vendas; Linhas de apoio utilizadas; Origem histórica dos Clientes; Recurso ao takeaway / entrega ao domicílio e; Sugestões dos empresários.
Da análise dos resultados, neste universo, àquela data, apura-se que:
Número de trabalhadores ao serviço e organização da empresa
- das empresas que responderam, 97% são de S. Miguel e 7% de Stª Maria, sendo que, por concelho, Ponta Delgada representa 50%, a Ribeira Grande 14%, a Povoação 10%, Lagoa e Vila Franca 7% e Nordeste quase 5%.
- Por emprego, mais de 50% tinha até 9 trabalhadores e cerca de 17% de 10 a 20.
- A maioria dos inquiridos (45%) exercem só a atividade de restauração, sendo 17% restaurante em hotel e 17% restaurantes em café.
- 76% dos restaurantes não implementou takeaway por não ser apelativo.
- Apenas 15% dos restaurantes aderiu a plataformas de entrega de encomenda de refeições, sendo a razão para a não adesão a pouca atratividade ou a inexistência do serviço no concelho.
Impacto económico na empresa e perspetiva futura de vendas / linhas de apoio utilizadas
- 76% das empresas inquiridas estavam totalmente encerradas e as restantes parcialmente encerradas.
- Para 81% das empresas a quebra de vendas situou-se entre os 51 e os 99%, com 14% a não registar qualquer receita.
- A perspetiva de retoma foi de 2021 para 65,5% dos inquiridos, julho/agosto para 9,5%, outono/inverno para 9,5% e 2022 para cerca de 5%.
- 94% dos inquiridos recorreu a medidas de apoio, principalmente o lay-off.
Origem dos Clientes Antes e Depois da Pandemia
- Para mais de 50% das empresas os locais, da ilha, representam menos de 39% das vendas, sendo que só em 6% dos casos representam mais de 80%.
- Antes da pandemia, as receitas de clientes externos à ilha, representavam mais de 60% do total para 46% dos estabelecimentos.
- Quanto à origem dos clientes, 60% indica que mais de 40% são estrangeiros.
- Os continentais e madeirenses representam até 39% dos clientes para quase 50% dos restaurantes.
- Os açorianos representam até 39% dos clientes para cerca de 50% das empresas.
- Depois da pandemia a expetativa de 52% dos inquiridos é de que os clientes externos representarão menos de 20%, sendo que 7% acham que será de 80 a 100%.
Sugestões dos Inquiridos
As cinco principais sugestões de medidas:
- Continuação de todas as medidas em vigor, principalmente do Lay-off, enquanto se mantiver os efeitos da pandemia.
- Redução de outros custos que não salariais: rendas, energia, água etc.
- Isenção/perdão/redução de diversos impostos.
- Apoio à tesouraria a fundo perdido.
- A entrega rápida dos apoios solicitados. Necessidade de apoios a fundo perdido e não de endividamento.
Outras achegas frequentes foram:
- As cercas tiveram um impacto muito negativo nas vendas.
- Se todos os apoios forem baseados em linhas de crédito a pagar “suavemente” ao longo dos próximos anos, quando a economia retomar, não haverá microempresas e iniciativa empresarial, porque financeiramente, estaremos todos arruinados.
- Vivemos do turismo, se continuarmos com aeroportos fechados vamos ter muita dificuldade.
- Sou tremendamente pessimista quanto ao futuro. Como vai ser possível garantir os empregos até final do ano? O que será dos colaboradores que tenho?
- A retoma do sector da restauração será longa. Estimo encerramento de todos os espaços com capacidade baixa de ocupação. É preferível encerrar a atividade do que continuar a aumentar passivos. O horizonte apresenta dificuldades sem precedentes.
Em Síntese:
- A pandemia provocou alguns, pequenos, acertos na forma de prestação de serviços de restauração, mas o seu impacto foi elevadíssimo levando ao encerramento total ou parcial de 93% dos estabelecimentos;
- A generalidade dos restaurantes recorreu ao mecanismo do Lay-off;
- A generalidade dos restaurantes depende maioritariamente de clientes do exterior da ilha, particularmente continentais e estrangeiros;
- As perspetivas para a retoma da atividade são pessimistas com muitos empresários a apontar a retoma apenas para 2021.
A Comissão Especializada da Restauração, da CCIPD, reúne esta quinta feira, pelas 17:30h para discutir a situação do setor e analisar os resultados do inquérito.
O relatório do inquérito, com gráficos, está disponível no sítio da CCIPD.