Comunicado
A Direção e a Comissão Especializada do Turismo da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada/Associação Empresarial das Ilhas de S. Miguel e Santa Maria reuniram no dia 30 de dezembro, conjuntamente com representantes da Associação de Alojamento Local dos Açores e da Delegação da AHRESP, com o objetivo de analisarem a forma como decorreu o ano de 2021, bem como perspetivar 2022.
Balanço 2021
O ano de 2021 continuou a ser marcado pela incerteza devido à pandemia, com três períodos distintos: os primeiros cinco meses, muito difíceis para as empresas pelas restrições à sua atividade e também pela redução muito significativa de turistas; os meses entre junho e novembro durante os quais se registou uma retoma interessante da atividade no setor, muito sustentada em turistas nacionais; o último mês do ano marcado por nova recaída devido à proliferação da nova variante denominada de Ómicron.
A situação das empresas melhorou no 2º semestre, devido à recuperação então verificada, mas continuou a ser muito difícil, dada a quebra de 40,2%, em relação a idêntico período de 2019, nas dormidas de janeiro a outubro (últimos dados estatísticos divulgados). Acresce que esta recuperação se revelou muito assimétrica, com as quebras mais elevadas em S. Miguel (-44,8%) e as mais baixas em S. Jorge (-16,2%) e Flores (-1,4%), tendo a ilha do Corvo registado uma melhoria de 2,1%.
No global, acumulando a quebra de 40% de 2021 com a de 72% de 2020, há já uma perda equivalente a uma paragem total de mais de um ano de atividade. Trata-se de um impacto brutal sobre a atividade económica deste setor.
Os apoios públicos de mitigação dos efeitos da pandemia tiveram um papel relevante na ajuda à sobrevivência das empresas e na manutenção de postos de trabalho tendo, no entanto, terminado no final do segundo trimestre, mesmo perante um cenário de recuperação impossível, como se confirma. É a própria OCDE, em relatório recente sobre Portugal que recomenda que “os apoios dirigidos às famílias e às empresas sejam mantidos e adaptados à evolução da pandemia”.
A importância do turismo na economia regional é muito relevante, como se tem verificado ao longo dos anos ao nível do emprego e da geração de riqueza, mas, nem sempre, este papel tem sido reconhecido, entendido e acarinhado pelos
poderes públicos. O setor não tem beneficiado de orientações e de objetivos públicos claros e concertados, nem dos recursos necessários para a sua consolidação futura, como evidenciado já no parecer das Câmaras de Comércio sobre o Plano.
Acresce a este diagnóstico o problema, múltiplas vezes reiterado, da falta de recursos humanos qualificados mesmo num período de fraca procura, sem que se vislumbrem políticas incisivas e tempestivas para a sua resolução.
Perspetivas para 2022
O ano de 2022 vai continuar a ser marcado pela incerteza altamente condicionadora e penalizadora da atividade turística, agora incrementada com a propagação da variante Ómicron do SARS-CoV-2.
O inicio do ano vai ser de continuidade da situação de elevada contenção que agora se verifica, em especial nos países que são os principais mercados emissores de turistas para os Açores. Perspetiva-se, por isso, um 1º trimestre muito difícil para o setor, eventualmente tão mau como o de 2021, estimando-se que só a partir daquela altura se possa voltar a uma retoma significativa, para um resultado final ainda de 70% a 80% do nível de atividade alcançada em 2019. Este cenário significa que as empresas continuarão a enfrentar sérias dificuldades, principalmente nos próximos meses de muita reduzida atividade. O menor número de reservas e os cancelamentos já registados evidenciam bem esta situação.
Causa apreensão a instabilidade que se regista no setor aeronáutico nacional com a já anunciada reestruturação da TAP, com implicações eventuais nos Açores ao que acresce a total ausência de desenvolvimentos no processo de reestruturação da SATA, particularmente no que à SATA Internacional diz respeito, dado o seu papel não só em voos internos como também nas ligações diretas com a América do Norte.
Neste contexto, foi considerado necessário a implementação de um conjunto de medidas que ajudem à sustentabilidade no setor:
· Criação/reedição de medidas de apoio ao funcionamento e à manutenção de emprego, com caráter imediato e de aplicação célere, atendendo aos resultados finais de 2021 e às perspetivas muito negativas para o 1º trimestre de 2022;
· Adoção de uma estratégia pública clara para o turismo, assente numa promoção inteligente e suficiente e na atualização dos principais instrumentos de atuação do setor (POTRAA, PEMTA);
· Concertação imediata sobre a estratégia e a configuração específica do novo quadro financeiro plurianual europeu (PO AÇORES), numa altura em que já terminou o anterior quadro de apoio;
· Dar continuidade e reforçar a política de qualificação dos recursos humanos e também de libertação de pessoas afetas a programas ocupacionais;
· Reagir positivamente, com reforço orçamental para a promoção junto dos mercados emissores, ao novo surto de interesse espontâneo de transportadoras aéreas externas na operação de voos diretos do exterior, no sentido de consolidar estes mercados e evitar abandonos como já aconteceu no passado, com reflexos negativos para o destino Açores;
· Acompanhar a reestruturação da TAP no sentido de que não seja prejudicada a função fundamental desta companhia no encaminhamento para os Açores de passageiros de todos os seus mercados de atuação na Europa e na América do Norte;
· Pugnar pela manutenção de uma função racional da SATA Internacional nas ligações com a Europa e com a América do Norte.
Ponta Delgada, 31 de dezembro de 2021